- Ciência Comportamental
Mesmo antes que a Medicina Veterinária Comportamental (MVC) se consolidasse como especialidade na década de 90, pesquisas em torno dos problemas comportamentais exibidos pelos animais já despontavam. Diversas publicações, pelos renomados Victoria Voith, Peter Borchelt, Bonnie Beaver, Benjamin e Lynette Hart, dentre outros, figuravam em periódicos científicos das décadas de 70 e 80. Nesse período, destacavam-se as investigações acerca da micção inapropriada em gatos (incluindo as tentativas iniciais de controle do problema através da neurocirurgia) e do comportamento agressivo canino alicerçado na já obsoleta teoria da “dominância social”. Estudos clássicos que serviram como importantes bases para a MVC tais como a pesquisa de Scott e Fulller (1965) sobre a conexão genética e comportamento, datam de período anterior.
De lá pra cá, a MVC vem crescendo significativamente como ciência, não apenas com o surgimento de inúmeros grupos de pesquisa, mas principalmente com uma franca expansão da temática de suas investigações. Desde os problemas comportamentais em si – avaliados sob as óticas médica, comportamental e evolucionista – a eficácia de diversas abordagens terapêuticas e programas preventivos, as bases emocionais por trás de comportamentos problemáticos, o impacto destes na saúde física dos animais, até o envolvimento dos donos com a terapia, multiplicam-se os estudos e as publicações – geralmente de grande impacto. Como fonte valiosa de consulta e acompanhamento dessa evolução científica da MVC, destaca-se o periódico “Journal of Veterinary Behavior: Clinical Applications and Research” (Elsevier), lançado em 2006, cuja editora chefe é a Dra. Karen Overall, da Universidade da Pensilvânia (EUA).
A MVC como ciência é também multidisciplinar, englobando cientistas com distintas formações (veterinários, biólogos, zoólogos, psicólogos, zootecnistas etc.) e fazendo uso do conhecimento e das habilidades oriundos de distintas disciplinas: Clínica Médica Veterinária, Psicologia Humana, Etologia, Epidemiologia Veterinária, Bem-Estar Animal, Fisiologia Animal, dentre outros. A integração profissional ocorre nas discussões conceituais e na prática científica, sendo não apenas frutífera, mas necessária.
Diversos outros periódicos científicos, voltados especificamente para a temática do comportamento animal aplicado, ou mesmo enfocados em avanços gerais na Biologia e na Medicina Veterinária, são fontes de publicações relevantes em MVC: Applied Animal Behavior Science, Veterinary Record, Animal Welfare, Animal cognition, Plos One, Journal of Feline Medicine and Surgery, Animals, Scientific Reports, etc.
No Brasil e no Mundo
Centros de pesquisa atuantes em Medicina Veterinária Comportamental (MVC) existem tradicionalmente na Europa e Estados Unidos, além do Canadá e Austrália. Mais recentemente, com o avanço da área, grupos em novas regiões, tais como a América Latina, tem emergido.
No Brasil, ainda que a Etologia seja bastante difundida, com pesquisadores renomados espalhados por todo o território, no âmbito dos animais de companhia as pesquisas por eles conduzidas estão voltadas para o comportamento natural dos animais, destacando-se cognição e estresse em cães e gatos (ex: laboratório LABEAC coordenado pela Prof. Angélica Vasconcellos da PUC-Minas, laboratório LEDIS coordenado pelas professoras Briseida Resende e Patricia Izar da USP, laboratório LEC coordenado pela Prof. Carine Savalli da INIFESP). Em Etologia Clínica Veterinária, a Dra Dani Ramos atua como pesquisadora independente, pesquisando distúrbios comportamentais em cães e gatos, e trabalhando em parceria com empresas privadas.