Como funciona o Atendimento Comportamental?

A consulta comportamental é um atendimento clínico especializado que visa o diagnóstico, entendimento e tratamento de problemas comportamentais apresentados pelos animais de estimação.

Deve ser conduzida por um médico veterinário especializado em medicina veterinária comportamental.

É possível que esse atendimento constitua uma consultoria comportamental, quando for realizado por um especialista em comportamento animal não veterinário, um consultor comportamental. De qualquer modo, a opinião de um veterinário comportamentalista trazendo um ponto de vista médico tanto para as causas do comportamento quanto para as possibilidades terapêuticas deve ser considerada sempre que necessário.

Durante a primeira consulta, busca-se observar o comportamento do animal (normal e problemático), além de discutir com os proprietários as possíveis causas do problema, seus fatores motivacionais e desencadeadores, as implicações para o bem-estar do animal e da família, assim como os objetivos terapêuticos.

Os tutores podem e devem apresentar elementos que contribuam para uma melhor caracterização e entendimento do problema (fotos, vídeos etc.), além de quaisquer materiais, produtos e/ou medicamentos, que venham sendo utilizados para o controle do problema (mesmo que ineficientes).

O tratamento, selecionado com base no que melhor se adequa ao animal e a família, é discutido em detalhes e posto em prática, sempre que possível, já durante a primeira consulta.

Sessões complementares servirão para um aprofundamento das discussões (sempre que necessário), avaliação de progressos, esclarecimentos de dúvidas, ajustes na terapia proposta e estabelecimento de novas metas.

Quando procurar Atendimento Comportamental?

A consulta comportamental deve ser buscada sempre que a família identificar um comportamento problemático, inapropriado, ou simplesmente não compreendido, exibido pelo animal. É possível que esse não seja anormal, e se este for o caso, a consulta servirá para um esclarecimento das funções do comportamento, de como melhor conviver com ele, assim como da importância do mesmo para o animal.

 A busca por um especialista em comportamento animal deve também ser encorajada no caso de animais filhotes – cães e gatos. A consulta comportamental visará orientar os tutores sobre como melhor criá-los do ponto de vista comportamental, assim prevenindo problemas futuros.

Também, a consulta comportamental é de grande valia aos tutores em fase de preparação para a aquisição de um animal de estimação; com a devida orientação comportamental, a seleção do animal será feita com base nos anseios da família, no  seu estilo de vida, no ambiente que dispõem para a criação do animal e, principalmente, no temperamento do animal que melhor se adequa ao perfil dos familiares.

O atendimento comportamental também se aplica nos locais onde os animais de estimação são mantidos em grupos (ex: abrigos, criadores etc.). Nesse contexto, o especialista visará, dentre outros, promover um manejo ambiental voltado para o bem-estar dos animais. Em condições de confinamento, especialmente em ambientes com poucos estímulos, o estresse crônico costuma desencadear doenças físicas e psicológicas; a modificação ambiental é, portanto, crucial para a prevenção e tratamento destas doenças.

Por fim, vale ressaltar o trabalho do especialista em parceria com um médico veterinário clínico geral no atendimento de pacientes com doenças físicas desencadeadas ou agravadas por desequilíbrios emocionais (ex: dermatoses de origem psicológica em cães e gatos, cistites por estresse em gatos).

A terapia comportamental complementará o tratamento médico em andamento, buscando assim uma abordagem completa, do corpo e da mente, necessária para um controle efetivo destas enfermidades.

Onde ocorre e qual duração?

A consulta comportamental por veterinário especializado costuma ser realizada no consultório veterinário.

Sessões complementares subsequentes podem ser agendadas no domicílio do animal.

Enquanto a primeira consulta tem duração média de duas horas, sessões complementares duram em torno de noventa minutos.

O número de sessões complementares dependerá da gravidade do problema, do ritmo de melhora apresentado pelo animal (sempre individual) e da necessidade de suporte por parte da família.

Ainda que o comportamento problemático não seja evidenciado durante o atendimento em consultório veterinário, o especialista saberá avaliar e compreender o animal e seu problema com base na conversa com a família e nas observações do comportamento do animal frente às pessoas e ao ambiente – feitas durante a consulta.

As intervenções praticadas já no consultório também auxiliarão no processo diagnóstico e na definição da terapia a ser seguida.

Se o especialista julgar necessário, ou se a família desejar, novas sessões domiciliares serão agendadas.

Abordagens Diagnóstica e Terapêutica

Diferentes abordagens diagnósticas e técnicas terapêuticas costumam ser empregadas na lida com comportamentos problemáticos exibidos pelos animais de estimação.

Especialmente por se tratar de área recente, cujo conhecimento encontra-se ainda em construção, novas condutas estão sempre surgindo à medida que as pesquisas científicas avançam.

Assim, cabe ao especialista a tarefa de se manter atualizado, atento às novidades nacionais e, principalmente, internacionais.

Entre os especialistas em medicina veterinária comportamental, as abordagens múltiplas, que consideram fatores externos (visão comportamental) e internos (visão médica), além de aspectos concernentes à história evolutiva da espécie (visão evolucionista), são as mais aceitas.

Diferentes elementos que controlam os comportamentos problemáticos devem ser levados em conta, assim aumentando as chances de sucesso no seu tratamento.

Além do problema em si, o animal deve ser avaliado sob o ponto de vista físico, ambiental, social, além de seu status emocional (quais as bases emocionais do comportamento problema? qual o temperamento do animal?) e de seu status de aprendizado (quais os elementos reforçadores e/ou punitivos que controlam o comportamento problema? a quais experiências geradores de aprendizado o animal foi submetido?), dentre outros.

A terapia comportamental consiste, portanto, em intervenções em prol do equilíbrio destes elementos.

O uso de medicamentos, por exemplo, visa ajustar o status emocional do animal (ex: controlar a ansiedade generalizada, o medo extremo ou a impulsividade).

Já o treinamento do animal (adestramento) busca promover o aprendizado de comportamentos saudáveis.

Intervenções sociais, ambientais e físicas são também incluídas na terapia.

Cães

Dentre os comportamentos problemáticos mais comumente exibidos pelos cães estão a agressividade (entre cães e contra pessoas), os medos e as fobias (geralmente de barulhos), a ansiedade decorrente de separação, a eliminação inapropriada e os comportamentos que denotam excessos e/ou descontrole (ex: destruição de objetos, vocalização excessiva, monta inapropriada).

O especialista em medicina veterinária comportamental poderá também auxiliar em relação ao manejo de comportamentos menos comuns tais como as compulsões (ex: perseguição e mordedura da cauda) e a disfunção cognitiva.

Um levantamento recente de 180 casos atendidos pela Dra. Daniela Ramos, na cidade de São Paulo, apontou para a seguinte prevalência de problemas comportamentais caninos:

Canine Common Reasons For Referral

Coprophagy
3.9%
Human Directed Aggression
22.2%
Fears and Phobias
13.3%
Dog-dog aggression
12.2%
Repetitive Behaviours
10.5%
Training Problems
8.9%
Elimination Problems
7.8%
Separation Related Problems
7.2%
Excessive Barking
5.5%
Others
8.3%

Incluem-se na categoria “outros”: hiperatividade, problemas de adaptação quando da chegada do bebê, problemas com o comportamento típico de filhotes etc.).

*Acessar o trabalho completo: RAMOS, D.; RECHE-JUNIOR, A.; HENZEL, M; MILLS, D. (2019). Canine behaviour problems in Brazil: a review of 180 referral cases. Veterinary Record 186(18) e.22.

Gatos

Dentre os comportamentos problemáticos mais comumente exibidos pelos gastos estão a agressividade (entre gatos e contra pessoas), a eliminação inapropriada, a lambedura excessiva e a ingestão inapropriada de tecidos (PICA) e os comportamentos que denotam descontrole e/ou deficiências ambientais (ex: brincadeira agressiva, arranhadura inapropriada, vocalização excessiva). O especialista em medicina veterinária comportamental poderá também auxiliar em relação ao manejo de comportamentos menos comuns tais como outras compulsões e a disfunção cognitiva.

Um levantamento recente de 155 casos atendidos pela Dra. Daniela Ramos, na cidade de São Paulo, apontou para a seguinte prevalência de problemas comportamentais felinos:

Feline Common Reasons For Referral

Cat-cat Agression
31%
Inappropriate Elimination (urine and faeces)
26.4%
Repetitive Behaviours
16.8%
Human-directed Agression
13.5%
Others
12.2%

Incluem-se na categoria “outros”: vocalização excessiva, arranhadura inapropriada, problemas na introdução de gatos desconhecidos etc.).

*Acessar o trabalho completo: RAMOS, D.; RECHE-JUNIOR, A.; HIRAI, Y.; MILLS, D. (2019). Feline behaviour problems in Brazil: a review of 155 referral cases. Veterinary Record 186 (16), e.9.

COMUNICADO!

A Dra Dani Ramos não está agendando novas consultas neste ano de 2022. Ela segue desenvolvendo pesquisas, além de cursos e palestras em Comportamento Canino e Felino para tutores, profissionais e empresas.

Se você tem interesse nesses assuntos, deixe seu nome e e-mail abaixo para receber nossos novos informativos!

Um abraço!